Parasha Hayei Sarah Gn24

CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS - Estudo da Parasha da Semana – Cristãos estudando as fontes judaicas
PARASHAT HAYEI SARAH - Gn 23,1 – 25,18 – RABBI ELIYAHU SAFRAN

Quando a confiança é o que importa

Vemos os anúncios, vendendo a confiabilidade de consultores financeiros e instituições. Esses comerciais ressoam conosco porque sabemos como é importante confiar em quem tem influência ou controle sobre nosso dinheiro.

Certamente o mesmo era verdade na época de Abraão. Era realmente um homem de sorte que tinha alguém em quem podia confiar para cuidar de suas propriedades, seus rebanhos, seu sustento. E, segundo todos os relatos, nesse aspecto Abraão teve extrema sorte. Pois ele tinha Eliezer.

É difícil imaginar um chefe com mais fé em seu empregado, um senhor que tem mais fé em seu servo do que a fé que Abraão tinha em Eliezer. Ele o elogia como o "mais velho de sua casa". Somos informados de que ele “... governava tudo que pertencia a Abraão”.

Eliezer era, para todos os efeitos práticos, o homem de confiança da vida de Abraão. Ele era o responsável por tudo o que era de Abraão, uma responsabilidade não pequena dada a extensão da propriedade de Abraão! A Torá deixa claro que não havia nada que Abraão não confiasse ao julgamento, autoridade e controle de Eliezer. A confiança de Abraão neste homem era absoluta.

Essa confiança não era apenas uma questão de propriedade e comércio. Eliezer também foi encarregado de ensinar aos outros os costumes de Abraão. Ele era um exemplo do modo de vida único e excepcional de Abraão.

Então quem mais Abraão escolheria para realizar a tarefa mais sagrada de encontrar uma esposa para seu filho, seu único filho, o filho que amava, para Isaac? Quem mais escolher para encontrar uma esposa para Isaac? Ele estaria encontrando a mulher que substituiria Sarah, que se tornaria a segunda matriarca. A futura esposa de Isaac seria mais do que sua companheira ajudante e mãe de seus filhos; ela se tornaria o pilar do desenvolvimento da nação judaica. Quem mais Abraão poderia pedir para cumprir tal tarefa sagrada? Quem mais?

A tarefa de encontrar a noiva de Isaac não foi apenas profunda; era também urgente. Abraão não era um jovem. Ele era “bem avançado em dias”. Não medimos palavras, ele estava velho e perto do fim. Sua vida havia sido de bênçãos. A Torah nos diz que Abraão foi abençoado "por Deus em tudo". O Ramban ensina que isso significa que sua vida foi repleta de riquezas, posses, honra, longevidade e filhos. A ele faltou apenas uma coisa. Garantia. A garantia de que todas essas bênçãos, tudo o que sua vida havia sido e significado, continuariam depois que ele partisse. Ele não tinha certeza de que a promessa de Deus, muito antes de fazer seus descendentes "tão numerosos quanto as estrelas", seria cumprida. E, dada a sua idade avançada, estava ansioso por ter essa certeza, por ver o seu filho casar-se.

Naturalmente, foi Eliezer quem enviou a missão. Quem mais senão o homem que era o administrador de todos os seus bens, que era, para todos os efeitos práticos, responsável por todas os bens da casa de Abraão.

Eliezer recebeu a incumbência e a confiança de fazer tudo pela casa de Abraão. Ele foi consultor financeiro, administrador, gerente. É claro que essa tarefa vital e sagrada de encontrar uma noiva para Isaac também faria parte de seu currículo de responsabilidades. Mas espere…

Antes de enviá-lo nesta tarefa, a esta pessoa de confiança foi exigido: “... coloque agora sua mão sob minha coxa, e eu te farei jurar por Deus ... que você não tomará uma esposa para meu filho entre as filhas dos cananeus. O que é isso? Eliezer, o homem de maior confiança na casa de Abraão, o homem a quem ele confiou seu sustento, sua riqueza, seus ensinamentos de repente tem que fazer um juramento? Algo aconteceu para comprometer a confiança que Abraão tinha neste “ancião de sua casa” de que ele agora tem que fazer um juramento antes de realizar esta tarefa para seu mestre? Ele já não havia sido provado de mil maneiras ao longo dos anos? A riqueza familiar de Abraão certamente cresceu exponencialmente sob a mão firme de Eliezer; seus muitos servos compreenderam e abraçaram o modo de vida Abraâmico; as muitas bênçãos de sua vida foram bem cuidadas. Mas agora ele deveria fazer um juramento? Abraão confiava em Eliezer ou não?

O texto deixa claro que sim, Abraão confiava em Eliezer. Ele confiava nele com seu histórico de vida, com seu gado, suas casas, seus rebanhos ... com tudo o que ele tinha. Em todas essas coisas, Eliezer estava no comando. Nenhuma pergunta jamais feita. Sem dúvidas levantadas. Mas isso que Abraão estava pedindo a ele, para ir e encontrar uma esposa para Isaac, não era simplesmente outro item curricular; não era simplesmente mais um investimento. Não era um negócio. Essa tarefa estava no mundo, mas não era "do mundo".

Não se tratava das propriedades de Abraão, mas de sua vida, seu legado, sua responsabilidade espiritual. Essa tarefa dizia respeito a tudo o que era sagrado em sua vida - seu filho, uma esposa para seu filho e os filhos que viriam desse casamento. Esta tarefa dizia respeito sobre a relação essencial de sua vida - entre ele e o próprio Deus. Esta tarefa dizia respeito para os futuro pais e mães do futuro do povo de Israel. E quando se tratava desse legado, confiança no comércio, confiança nos ensinamentos, a confiança diária não era suficiente. Antes de se envolver em tal tarefa, Eliezer teve que fazer um juramento.

É fácil imaginar em todos os outros aspectos das responsabilidades de Eliezer que havia "dar e receber". Talvez ele questionou algo sobre a diretriz de Abraão sobre o gado, ou a melhor forma de mover a família daqui para lá. Então, ele e Abraão se envolveram em alguma discussão, alguma negociação, para chegar a um acordo sobre o melhor caminho a seguir.

Um mestre sábio, um empresário inteligente, não desejaria e esperaria nada menos de seu servo e administrador geral. No entanto, neste assunto específico, não haveria negociação; não haveria discussão e sem perguntas. Neste assunto, Eliezer não teria voz que pudesse alterar de alguma forma o compromisso absoluto de Abraão com o futuro.

Esta não foi uma discussão ou negociação. Esta foi uma diretiva. E depois que Abraão concluiu suas instruções muito rígidas sobre quem poderia ser trazido de volta como noiva para Isaac, Abraão insistiu que este administrador de todos os seus bens colocasse a mão sob a coxa e jurasse a ele sobre este assunto.
Sem negociação. Sem “forma alternativa”. Sem interpretação. Abraão foi claro. O futuro do Povo de Israel não era negociável. A mensagem de Abraão para Eliezer foi clara, eu confio a você minhas posses e minha riqueza material, com as bênçãos deste mundo, mas não com meu futuro espiritual nem com o futuro espiritual de minha descendência.

***

Diz-se que Rav Yisael Salanter estava viajando uma vez e passou a noite em uma pousada lotada. Com tantas pessoas, o hospedeiro logo ficou sem comida. Este hospedeiro não conhecia Rav Salanter, mas, com base em sua aparência, considerou-o um judeu experiente, então ele se aproximou dele e pediu-lhe para matar uma galinha para ele em seu quintal. Rav Salanter balançou a cabeça e recusou, explicando ao hospedeiro que ele não era uma pessoa qualificada para isso e, portanto, não poderia ajudá-lo.

Na manhã seguinte, Rav Yisrael se aproximou do hospedeiro e propôs que o homem investisse em um esquema financeiro que "certamente renderá grandes recompensas". Ele propôs que o hospedeiro lhe desse um grande número de rubis e ele teria um grande retorno. O estalajadeiro ficou horrorizado. “Eu deveria te dar meu dinheiro? Você é um estranho para mim!” Rav Yisrael deu uma risadinha. "Sim, e ainda ontem à noite, com base na minha aparência, você presumiu que podia confiar na minha habilidade, mas agora, quando o problema é dinheiro, de repente você precisa me examinar."

A lição de Rav Yisrael foi clara - as prioridades do hospedeiro estavam erradas. Quando se tratava de assuntos espirituais, ele estava confiante. Quando se tratava de questões materiais, ele era cauteloso. Nesse aspecto, o hospedeiro era como muitos de nós. E tão diferente de Abraão!

É triste, mas é verdade que somos muito parecidos com o hospedeiro. Nossas prioridades estão de cabeça para baixo. Quando se trata de nossos investimentos, verificamos e verificamos novamente, queremos saber a história de quem administra nosso dinheiro. Mas quando se trata das lições de nossas almas ... nem tanto. Quando se trata da educação espiritual de nossos filhos, a mediocridade costuma ser suficiente. Afinal, talvez ele não seja o melhor, mas o que podemos fazer? Não podemos pagar e fazer mais nada.

Qual é o nosso problema? Um dia, nosso filho traz para nossa bela e boa casa uma jovem com quem ele quer se casar e damos uma olhada nela e está bem! Ela pode ser legal o suficiente, ela pode ser bonita o suficiente, mas ela não é nenhuma Rebeca! E não conseguimos explicar por quê. Ou nossa filha traz para casa um jovem que nem consegue pronunciar corretamente “Abraão” e queremos saber, por quê? E nunca fazemos a conexão com nossa avareza em nossos investimentos espirituais.

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É curioso que, nesta narrativa de Abraão enviando Eliezer para encontrar uma noiva para Isaac, o nome de Eliezer nunca apareça. Nisso, também encontramos uma lição importante. Em nossa própria época, quando a autopromoção é “tudo”, quando é sempre “eu, eu, eu!” a parasha nos ensina que existe, de fato, algo muito mais importante. Para Eliezer, era a missão.

Não era “sobre ele”. Tratava-se de cumprir a sagrada tarefa que Abraão pediu a ele. O futuro do Povo de Israel não era negociável. Talvez seja hora de conduzir nossas próprias vidas com isso em mente.

Para aprofundar o estudo da Palavra, confira as seguintes citações
Lc 12,15-21
O que os textos bíblicos e o texto da Parashat nos mostram sobre a Palavra de Deus e os critérios para escolhermos o que é importante?
Cf. Gn 32,26.32; Ap 19,16
A seu ver por que isso tem a ver com o juramento que Abraão fez com Eliezer? O que você acha? Existiria alguma correspondência entre isso?