27 – A transformação do Judaísmo

A TRANSFORMACAO DO JUDAISMO

Com a destruição do Segundo Templo, tinha terminado a soberania política de Israel. Terminado o tempo glorioso de Davi ou dos Hasmoneus, essa dispersão revelou uma tríplice fragilidade: a fragilidade em relação à terra de Israel que tinha "lançado" para fora seus habitantes, fragilidade em relação às nações (Roma, em especial) que possuíam no presente os plenos poderes, fragilidade do povo em relação a ele mesmo que se encontrava disperso nos quatro cantos da terra.

Se o judaísmo sobreviveu, contudo, a essa catástrofe, se ele pôde se manter vivo através do exílio, se ele pôde manter a cabeça erguida frente às humilhações e aos mártires – o ano 70 foi só começo deles – é sem dúvida alguma graças às ações exemplares dos Fariseus. Os rabinos se tornaram desse momento até à Revolução Francesa e a emancipação dos seus direitos oferecida pela modernidade, os únicos guias e quem incentivadores da nação judaica na diáspora.

De fato, depois de Esdras, o nacionalismo tinha perdido a sua soberba. A realeza foi um lamentável fracasso, os profetas não conseguiram estancar a hemorragia, o poder tinha corrompido seus príncipes, seus sacerdotes e seus juízes. Quando os Zelotes desapareceram no combate e quando os Saduceus foram tirados do poder, eles souberam encontrar as medidas adequadas para permitir à história judaica de perdurar, não mais baseada numa fé política que fosse escrita num Estado soberano, mas a história de uma esperança baseada numa fé inquebrantável.[1]

Tratava-se agora de não mais se engajar politicamente, mas se engajar religiosamente, traduzido no estudo exclusivo da Torah. A história particular ou universal só tinha sentido a partir dessa leitura religiosa, ou mesmo mística como dirá mais tarde a Cabala. Por fim, Deus tinha perseguido seu povo por causa de sua desobediência. "A nação de sacerdotes" não estava à altura da sua vocação espiritual. A Sinagoga introduziu a oração: "Por causa das nossas faltas é que nós fomos exilados da nossa terra". Fórmula que relembra o Talmud que afirmava que o Primeiro Templo tinha sido destruído por causa de "três pecados principais" do judaísmo: o assassinato, a idolatria e a depravação, e que o Segundo Templo foi destruído por causa do ódio gratuito.


[1] Cf. Haddad, Philippe. Pour expliquer le judaïsme a mes amis. Paris: Editions in Press, 2013. p. 59.