43 – Os eixos principais do Judaísmo - O Credo Bíblico

Monte Sinai e o recebimento das 10 Palavras

Os Hebreus têm certa visão própria de mundo, da história, do ser humano que a análise do texto Bíblico nos revela. Apresentaremos alguns aspectos que acreditamos ser fundamentais pois deles derivam todo o pensamento religioso hebraico. Eles completam sobre aquilo que foi dito sobre "o Profetismo" anteriormente.

Toda religião positiva se fundamenta sobre um Credo. Ela se apoia sobre uma afirmação que se torna a verdade da sua base. O judaísmo não escapou também dessa regra. Para ele, essa verdade original, fundante, é a saída do Egito, data do nascimento do povo de Israel. Se Abraão descobriu o monoteísmo ético, que marca de modo único a fé e a moral, a saída do Egito marca o surgimento de uma coletividade que vai colocar aquela descoberta de Abraão como coluna mestra da sua construção.

Não existe uma solenidade, ou oração que relembre esse acontecimento fundador, e a fórmula "lembre-se da saída do Egito" é recorrente no ritual. A saída do Egito é tão importante, que o mês da libertação, o mês de Nissan, se tornou o primeiro do calendário hebraico[1] (Nissan era o mês das mudanças de ano nas administrações reais, no período bíblico). Através da celebração da festa da Páscoa, os judeus se identificavam aos Hebreus, experimentando a amargura da opressão e expressando o seu reconhecimento ao Libertador Supremo.

O coroamento dessa alforria é a promulgação do Decálogo, que conclui a Aliança (berit) entre Deus e Israel. A partir desse momento, a lei do instinto, a do mais forte, é substituída pela lei moral, aquela da partilha e do amor entre todos os seres humanos[2].

Por essa Aliança Israel não é mais um povo produzido pela natureza, como aqueles que tinham nascido após Babel, mas uma coletividade de testemunhas (eda), "um reino de sacerdotes": testemunhas de Deus, para que o próprio Deus seja reconhecido como Pai da humanidade. Israel, portanto não está preocupado em converter as pessoas ao judaísmo (proselitismo), mas esforça-se por esclarecer as consciências da sua origem divina.


[1] Embora a saída do Egito marque o nascimento do povo de Israel, o calendário judaico universal considera o ponto zero da criação com o nascimento de Adão, pai da humanidade. Por exemplo o ano de 2018 da era cristã corresponde ao ano 5778 da criação de Adão.

[2] Cf. Haddad, Philippe. Pour expliquer le judaïsme a mes amis. Paris: Editions in Press, 2013. p. 100