103 – RASHI

Rashi

Um erudito judeu cujo nome iria atravessar as fronteiras e o tempo iria restaurar novamente às letras a nobreza do seu sentido natural: seu nome é Rabbi (R) Shlomo (SH) de Itshaki (I) que perfaz o seu conhecido nome: Rashi.

A lenda popular fala muito bem desse exegeta genial. Ela narra que ele viajou por toda a Europa, na Ásia e na África, distribuindo as suas folhas nas sinagogas, como um profeta revelador do divino. Alguns afirmam que na cidade de Worms, na Alemanha, outros que foi em Troyes, na França, que ainda existe um buraco num muro onde teria sido seu nicho de estudo, traço ainda de um milagre que poupou sua mãe quando estava grávida do seu pequeno prodígio.

Rashi foi contemporâneo de Godefroy de Bouillon, herói da 1ª Cruzada. Rachi teria recebido esse senhor para lhe prever o futuro antes da sua expedição. Todos esses contos populares existem para testemunhara a aura que tinha Rashi já enquanto vivo e muito mais após a sua morte.[1]

Ele foi um sutil comentador do Talmud, da Bíblia e do Midrash, e ainda hoje seus comentários podem ser encontrados nas edições do Pentateuco. Essa grande fama e seu trabalho colossal lhe mereceram o título de parchan data, "comentador da lei". Seus comentários foram tão apreciados que na sua época ele também foi comentado, traduzido em latim, em alemão, em inglês e em francês.

Rashi (1040 – 1105) viveu em Troyes, na região de Champagne na França, depois de ter estudado quando jovem em Worms. Fora do trabalho com as vinhas, ele foi um erudito incansável e um pedagogo excelente, com seu único objetivo de tornar claro o sentido de um texto da tradição escrita ou da tradição oral. Contrariamente de Saadia que escreveu em árabe, Rashi escreveu em hebraico, inserindo por vezes, palavras em francês arcaico (somente citadas em dicionários etimológicos) para tornar mais compreensível a palavra hebraica. Não conhecendo sobre os ataques dos Caraítas, nem sobre a filosofia grega e árabe, Rashi se dedica a explicar o texto sem fazer longas digressões, no máximo ele se permitia dizer, quando a razão tinha sido prejudicada, que o Midrash não correspondia ao sentido natural do versículo. Essa tendência à exegese literal foi uma grande revolução na época, mas essa era para ele a sua vocação própria: "Eu vim somente para explicar o sentido literal" teria dito ele, ou segundo a fórmula consagrada do Talmud: "O versículo não sai nunca da sua literalidade!" (Tratado Shabat 63a ).

Escutemos o testemunho de um dos seus netos rabbi Samuel ben Meir: "Rabbi Shlomo, meu avô materno, luz do exílio, que comentou o Pentateuco, os Profetas e os Escritos, se esforçou de desenvolver o sentido literal dos versículos. E eu, Samuel, filho de Meir, discutindo com ele,ouvi dele a confissão: 'se eu tivesse tido a possibilidade eu novamente retomaria o trabalho em função do sentido literal"[2]. Rashi foi, em função dessas condições que teve na sua época, um excelente gramático, o que lhe permitiu realizar sua missão interpretativa. Seu exemplo, seja por sua piedade como por seu método, foi seguido por seus discípulos, dentre os quais estavam os seus netos. Toda essa escola que se desenvolveu no norte da França foi chamada de escola dos "Tossafistas" ou dos "Acrescentadores".


[1 ]Cf. Haddad, Philippe. Pour expliquer le judaïsme a mês amis. Paris: In Press Éditions, 2013, p. 173-174.
[2] Comentário de Rabbi Samuel ben Meir sobre Gn 37,1.