MUSEU JUDAICO DE SAO PAULO

– Rabino Uri Lam – Congregação Beth – El
Publicado na edição de quinta-feira (13 janeiro de 2022, p. 6) da Tribuna da Bahia

O novo museu, inaugurado em 05 de dezembro de 2021, é o local ajustado para ensinar aos brasileiros o que são os judeus e o que é o judaísmo. São três pisos e o mezanino sortidos com imagens, objetos, vídeos e gravações que requerem tempo para absorver e processar as lições. O museu funciona de terça a domingo, das 10 às 19h, e os ingressos e as informações a respeito podem ser obtidos no site https://museujudaicosp.org.br/ . A cafeteria e a lojinha localizadas no primeiro subsolo comercializam produzidos afins com a cultura judaica.

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A obra do novo museu levou cerca de 10 anos para ser concluída e adaptou a antiga Sinagoga Beth-El, erguida na década de 1920, ao propósito de exibir o passado, em alguns casos, com o auxílio de moderna tecnologia. Recomenda-se, por exemplo, que o visitante leve consigo seus fones. O projeto do escritório paulista Botti Rubin ajusta à antiga sinagoga a estrutura de aço e vidro que acrescenta os quatro pisos sobsolo ao imóvel.

No Centro da Cidade

A antiga sinagoga fica na esquina da Rua Martinho Prado, na Bela Vista, com a Rua Avanhangava, endereço gastronômico que hospeda, por exemplo, o Famiglia Mancini Trattoria. Tudo muito próximo da Rua Augusta. Ao ingressar no prédio do museu, o visitante passa por detetor de metais, mas a turma da recepção e da monitoria é agradável e preparada para tratar bem tanto as crianças como os idosos e a turma do meio. Vamos, então, visitar o Museu Judaico de São Paulo!
Os três pisos e o mezanino comportam duas exposições temporárias (no mezanino e no 2º subsolo) e duas de longa duração (térreo e lº subsolo). No mezanino, acima do piso térreo, permanece até 28 de março vindouro a exposição “Inquisição e cristãos novos no Brasil”; e no 2º subsolo, a exposição de arte contemporânea “Da letra à palavra”, com a participação de 32 artistas (pintores e escultores), também será desmontada em 28 de março.
A exposição no térreo exibe o ambiente sacro da antiga sinagoga e é cercado de vitrines que dão ainda mais substância ao tema da mostra desse andar: “A vida judaica”. Quando estive ali, em 10 de dezembro, impressionou-me os antigos torás expostos num altar envidraçado. É no primeiro subsolo que se concentra o maior número de imagens, objetos, vídeos e gravações. A mostra de longa duração é intitulada “Judeus no Brasil: histórias trançadas”. Há, nesse andar, espaço não recomendado para menores de 12 anos em que se exibe série de vídeos que documentam a chacina nazista nos campos de concentração.

Descendo de judeus?

Atravessei a infância, até os seis anos de idade, entre crianças e adultos judeus. O segundo endereço do jovem casal Laurita e Luis Henrique foi o Edifício Sabina, na Rua Santa Clara do Desterro, no bairro de Nazaré. Nessa ocasião, muitos amigos de meus pais eram de origem judaica, dentre os quais Rosa e Rubem Tabacof e Shulamis e Boris Tabacof. Havia muitos outros, vários jornalistas e professores. Talvez essa experiência explique minha sedução pelo tema. Li, todavia, apenas o livro Os judeus que construíram o Brasil (São Paulo: Planeta, 2015), da saudosa professora Anita Novinski (1922-2021), um dos grandes nomes da FFLCH/USP.

É provável que os garotos e garotas da Rua do Desterro tenham, na época, iniciado o primário na escola de orientação judaica que funcionava na sinagoga do Campo da Pólvora. Meu irmão Sérgio e eu iniciamos os estudos na escola da professora Anfrísia Santiago. Quase seis décadas após, prossigo o relacionamento com alguns dos vizinhos de então, hoje vivendo os EUA e em Israel, mas mantenho bom relacionamento com reminiscentes da grande colônia judaica que Salvador possuiu nas décadas de 1950 e seguintes.

Neste último parágrafo, acrescento a sugestão ao visitante de Recife (PE) de visitar o Museu Histórico Judaico de Pernambuco, onde outrora funcionou a Sinagoga Kahai Zur Israel, n o centro antigo da capital, próximo ao Marco Zero de Recife. Exibo, ademais, os prêmios de ter visita do Museu Judaico de Amsterdã, o Museu do Holocausto de Washington e o extraordinário Museu do Holocausto de Jerusalém. Enfim, descendente de portugueses, quanto de nós não permaneceram sob o jugo colonial negando as verdadeiras origens? Visite o Museu Judaico de São Paulo."