46 - A liberdade como espaço de escolhas

Liberdade e as escolhas

Dentro desse sentido ocorre a classificação de que o profano se torna o espaço da liberdade entre a impureza e a morte, e a santidade e a vida. Então, o vocabulário é redefinido: o bem (tov) e o mal (ra) acontecem no plano ético. Fazer o bem significa oferecer mais vida ao outro, ser portador de bênção e fazer o mal significa o contrário. Se foram revelados por Deus, o bem e o mal não podem ser relativizados em determinada sociedade ou em uma cultura específica, mas adquirem um caráter absoluto, categórico e universal. Somente os ritos e as formas de invocar a Deus é que mudam. Esse é o sentido da pergunta de Deus a Adão: "Onde estás?", passar do estado do homem natural ao estado do homem de santidade, se afastando da impureza.

Liberdade e as escolhas 2O Adão original, criado a partir do pó, da terra é um animal biológico. Ele vive graças a um sopro divino que faz dele um "nefesh haya", um "sopro vivente". Esse homem natural é trabalhado pelos seus desejos, pelas suas pulsões, pelas suas forças interiores que são divinas. A essa criatura particular Deus oferece a "Tselem", a "imagem divina", que é a liberdade de fazer o bem. Adão agora é capaz de ouvir nele mesmo o imperativo moral do Criador: "De todas as árvores do jardim tu comerás, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, tu não comerás" (Gn 2,16.17). Por essa lei é que ele aprende a "se limitar naquilo que lhe é permitido". O fruto não estava envenenado! Por essa lei o ser humano aprenderá a ser tornar o Ish (homem) do capítulo seguinte, isto quer dizer, o homem da ética capaz de estar diante da Isha (mulher) para se tornarem um casal e a sexualidade ser o santuário de Deus. Em outras palavras, a questão hebraica da liberdade não trata sobre o abandono do mundo profano para ir ao mundo divino, mas trata sobre o como humanizar o divino no mundo profano. Luc Ferry chama isso de reapropriação do divino pelo humano.[1]


 

[1] Ferry, Luc. L'homme-Dieu ou le sens de la vie. Paris: Grasset, 1996. p.252.